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O eixo HPA e sua importância na depressão, insônia e ansiedade | Adriana Kelmer Siano

O eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) é um sistema complexo que regula a resposta do corpo ao estresse e desempenha um papel crucial na manutenção da homeostase. A disfunção desse eixo está associada a diversos transtornos mentais, incluindo depressão, insônia e ansiedade. Compreender o funcionamento do eixo HPA e as estratégias de tratamento, incluindo o uso de adaptógenos, pode oferecer novas abordagens para a gestão desses transtornos.

O eixo HPA é composto pelo hipotálamo, a glândula pituitária (hipófise) e as glândulas adrenais. Em resposta ao estresse, o hipotálamo libera o hormônio liberador de corticotrofina (CRH), que estimula a hipófise a secretar o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH, por sua vez, estimula as glândulas adrenais a produzir cortisol, o principal hormônio do estresse. O cortisol desempenha várias funções importantes, incluindo a regulação do metabolismo, a resposta inflamatória e o ciclo sono-vigília. A disfunção do eixo HPA pode levar a uma produção excessiva ou insuficiente de cortisol, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos mentais.

A depressão é um transtorno mental heterogêneo e a disfunção do eixo HPA pode variar entre os indivíduos. É comum observarmos uma hiperatividade do eixo HPA, resultando em níveis elevados de cortisol. Esse aumento crônico de cortisol pode levar a alterações na estrutura e função cerebral, incluindo a redução do volume do hipocampo e a disfunção da neurogênese(1). Em casos de estresse crônico prolongado, pode ocorrer um esgotamento da capacidade de resposta do eixo HPA, resultando em níveis reduzidos de cortisol(2). Sintomas associados à disfunção do eixo HPA na depressão incluem fadiga, perda de interesse, alterações de apetite e sono, além de dificuldades cognitivas.

A insônia, caracterizada pela dificuldade em adormecer ou manter o sono, também pode ser influenciada pela disfunção do eixo HPA. Níveis elevados de cortisol à noite podem interferir no início e na manutenção do sono, exacerbando os sintomas de insônia(3). A insônia crônica pode levar a uma dessensibilização dos receptores de cortisol, resultando em uma resposta inadequada ao estresse.

A ansiedade está frequentemente associada a uma hiperatividade do eixo HPA, levando a níveis elevados de cortisol. Esse aumento de cortisol pode intensificar a resposta de luta ou fuga, exacerbando os sintomas de ansiedade, como nervosismo, palpitações e tensão muscular(4).

Adaptógenos são substâncias naturais que ajudam o corpo a se adaptar ao estresse e a regular a função do eixo HPA. Eles podem ser uma opção eficaz para tratar a disfunção do eixo HPA em transtornos mentais. Alguns adaptógenos comumente utilizados incluem:

1. Ashwagandha (Withania somnifera): Conhecida por suas propriedades de redução do estresse e da ansiedade. Estudos mostram que a suplementação com ashwagandha pode reduzir significativamente os níveis de cortisol e melhorar os sintomas de ansiedade e depressão(5).

2. Rhodiola rosea: É um adaptógeno que pode aumentar a resistência ao estresse e melhorar o humor. Pesquisas indicam que a Rhodiola pode reduzir os sintomas de fadiga e melhorar a sensação geral de bem-estar(6).

3. Panax ginseng: O ginseng tem sido associado a melhora da energia e da função cognitiva e redução dos sintomas de ansiedade(7).

Além dos adaptógenos, outras estratégias podem ajudar a regular a função do eixo HPA e melhorar os sintomas de depressão, insônia e ansiedade:

1. Psicoterapia: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens eficazes para tratar depressão e ansiedade, ajudando os pacientes a identificar e modificar padrões de pensamento negativos e comportamentos disfuncionais.

2. Exercício físico: A atividade física regular pode ajudar a reduzir os níveis de cortisol e melhorar o humor, a qualidade do sono e a resposta ao estresse(8).

3. Mindfulness e meditação: São práticas que podem reduzir a atividade do eixo HPA e os níveis de cortisol, promovendo uma sensação de calma e bem-estar(9).

4. Nutrição balanceada: Uma dieta rica em nutrientes essenciais pode apoiar a função do eixo HPA e melhorar a saúde mental. Alimentos ricos em ômega-3, magnésio e vitaminas do complexo B são particularmente benéficos.

A disfunção do eixo HPA desempenha um papel crucial na patogênese de transtornos mentais como depressão, insônia e ansiedade. Compreender essa relação e explorar estratégias de tratamento, incluindo o uso de adaptógenos, pode oferecer abordagens eficazes para a gestão desses transtornos. Incorporar terapias baseadas em evidências, práticas de autocuidado e uma dieta balanceada pode ajudar a restaurar a função saudável do eixo HPA e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados.

 

Referências Bibliográficas

1. Pariante, C. M., & Lightman, S. L. (2008). The HPA axis in major depression: classical theories and new developments. Trends in Neurosciences, 31(9), 464-468.

2. Pariante, C. M., & Lightman, S. L. (2008). The HPA axis in major depression: classical theories and new developments. Trends in Neurosciences, 31(9), 464-468.

3. Vgontzas, A. N., Tsigos, C., Bixler, E. O., Stratakis, C. A., Zachman, K., Kales, A., … & Chrousos, G. P. (1998). Chronic insomnia and activity of the stress system: a preliminary study. Journal of Psychosomatic Research, 45(1), 21-31.

4. Gordon, J. L., Girdler, S. S., Meltzer-Brody, S. E., Stika, C. S., Thurston, R. C., Clark, C. T., … & Rubinow, D. R. (2015). Ovarian hormone fluctuation, neurosteroids, and HPA axis dysregulation in perimenopausal depression: A novel heuristic model. American Journal of Psychiatry, 172(3), 227-236.

5. Chandrasekhar, K., Kapoor, J., & Anishetty, S. (2012). A prospective, randomized double-blind, placebo-controlled study of safety and efficacy of a high-concentration full-spectrum extract of Ashwagandha root in reducing stress and anxiety in adults. Indian Journal of Psychological Medicine, 34(3), 255-262.

6. Panossian, A., & Wikman, G. (2010). Effects of adaptogens on the central nervous system and the molecular mechanisms associated with their stress—protective activity. Pharmaceuticals, 3(1), 188-224.

7. Kim, J. H., Yi, Y. S., Kim, M. Y., & Cho, J. Y. (2017). Role of ginsenosides, the main active components of Panax ginseng, in inflammatory responses and diseases. Journal of Ginseng Research, 41(4), 435-443.

8. Salmon, P. (2001). Effects of physical exercise on anxiety, depression, and sensitivity to stress: a unifying theory. Clinical Psychology Review, 21(1), 33-61.

9. Hölzel, B. K., Carmody, J., Vangel, M., Congleton, C., Yerramsetti, S. M., Gard, T., & Lazar, S. W. (2011). Mindfulness practice leads to increases in regional brain gray matter density. Psychiatry Research: Neuroimaging, 191(1), 36-43.

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Daniel Araújo

– Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2017 – CRM-MG 73183;
– Residência Médica em Neurologia pelo HU-UFJF (2021) – RQE 57063;
– Pós-graduação em Terapia Intensiva pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (2024);
– Mestrado em Saúde pela UFJF (2025);
– Professor universitário na UNIFAA (Valença-RJ).

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– Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2000 – CRM-MG 34894;
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– Formação em Psicanálise pela SOBRAP de Juiz de Fora (2005);
– Pós-graduação em Psicanálise, Subjetividade e Cultura pela UFJF (2007);
– Mestrado em Saúde pela UFJF (2009);
– Pós-graduação em Psiquiatria Nutricional e do Estilo de Vida (2024)
– Pós-graduação em Saúde Mental – com visão Funcional Integrativa (2025)
– Preceptora da Residência Médica em Psiquiatria do HU/UFJF desde 2014 — coordenadora do Ambulatório de Interconsulta Psiquiátrica e do Programa de Transtornos do Humor.

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