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O perigo do doping cognitivo para a saúde mental | Adriana Kelmer Siano

Na sociedade atual, a busca por alta performance e produtividade tornou-se uma constante. Profissionais de alto desempenho, pressionados por prazos e metas cada vez mais desafiadoras, muitas vezes recorrem ao chamado doping cognitivo: o uso de medicamentos e substâncias para aumentar a capacidade mental e melhorar o desempenho no trabalho. No entanto, os estimulantes que prometem aumentar a concentração, a memória e a resistência mental não são isentos de riscos e podem trazer consequências indesejadas para a saúde mental.

 

              Aqui estão algumas limitações e efeitos colaterais do doping cognitivo:

 

1- Competição neural: Nosso cérebro funciona em um delicado equilíbrio onde neurônios e redes neurais competem por recursos para processar informações. O uso de drogas para aprimorar uma função cognitiva pode inadvertidamente prejudicar outra. Por exemplo, medicamentos como Modafinil e Metilfenidato podem melhorar o foco, mas também têm sido associados a uma redução na flexibilidade cognitiva e na capacidade de adaptação (COLZATO; HOMMEL; BESTE, 2020; HILLS; HERTWIG, 2011).

 

2- Não linearidade: A eficácia das substâncias que aumentam os neurotransmissores não é linear. Enquanto níveis moderados de neurotransmissores podem melhorar o desempenho, níveis muito altos ou muito baixos podem ser prejudiciais. Isso pode levar a sintomas como ansiedade, insônia e até depressão, especialmente quando usados por longos períodos (COLZATO; HOMMEL; BESTE, 2020; HILLS; HERTWIG, 2011).

 

3- Sobrecarga e esgotamento mental: Embora as drogas possam oferecer uma solução rápida para melhorar o desempenho, elas não substituem o descanso e a recuperação adequados. O uso contínuo pode resultar em sobrecarga e esgotamento mental, o que, paradoxalmente, reduz a capacidade de concentração e produtividade a longo prazo (HILLS; HERTWIG, 2011).

 

4- Desafios éticos e sociais: Além dos efeitos individuais, o doping cognitivo levanta questões éticas e sociais. A pressão para melhorar constantemente o desempenho pode criar um ambiente competitivo insustentável, levando as pessoas a recorrerem a meios artificiais e, por vezes, perigosos para se destacar (BOSTROM; SANDBERG, 2009).

 

              Em vez de recorrer a medicamentos, existe uma alternativa mais segura e eficaz para melhorar o desempenho cognitivo: as mudanças de hábito baseadas nos pilares da medicina do estilo de vida. Essas práticas não só ajudam a melhorar a cognição, mas também promovem o bem-estar geral e a saúde mental. Muitos estudos apresentam resultados que sustentam esta afirmação:

 

1- Exercício físico regular: A prática regular de exercícios físicos é uma das formas mais eficazes de melhorar a função cerebral. O exercício aumenta o fluxo sanguíneo para o cérebro, melhora a memória e aumenta a capacidade de aprendizagem, além de reduzir os sintomas de depressão e ansiedade (COLZATO; HOMMEL; BESTE, 2020).

 

2- Alimentação balanceada: Uma dieta rica em nutrientes, especialmente aquelas ricas em Ômega-3, antioxidantes e vitaminas, sustenta a função cerebral e promove uma saúde mental positiva. Alimentos naturais e integrais devem ser priorizados em vez de alimentos processados (HILLS; HERTWIG, 2011).

 

3- Sono adequado: O sono é crucial para o processo de consolidação da memória e para a recuperação mental. Garantir um sono de qualidade e em quantidade suficiente é essencial para manter a cognição e o bem-estar emocional (HILLS; HERTWIG, 2011).

 

4- Técnicas de gestão do estresse: Práticas como a meditação, mindfulness e ioga podem ajudar a reduzir o estresse, aumentar o foco e promover uma sensação de calma e clareza mental (COLZATO; HOMMEL; BESTE, 2020).

 

5- Conexões sociais: Manter relações sociais positivas e participar de atividades comunitárias fortalece o suporte emocional e melhora a saúde mental geral (HILLS; HERTWIG, 2011).

 

6- Aprendizagem contínua: Desafiar o cérebro com novos aprendizados e habilidades ajuda a manter a mente ativa e flexível (BOSTROM; SANDBERG, 2009).

 

              Em suma, embora o doping cognitivo possa parecer uma solução tentadora para alcançar a alta performance em ambientes profissionais exigentes, os riscos associados à saúde mental são significativos. Adotar hábitos saudáveis baseados nos pilares da medicina do estilo de vida não apenas melhora a cognição, mas também promove uma saúde mental duradoura, proporcionando uma maneira segura e sustentável de alcançar o sucesso profissional e pessoal. Na Clínica VittaSoul, nossa equipe multidisciplinar utiliza uma abordagem integrativa para oferecer suporte personalizado em sua jornada rumo a uma vida mais equilibrada e saudável.

 

Referências:

 

BOSTROM, N.; SANDBERG, A. Cognitive enhancement: methods, ethics, regulatory challenges. Science and Engineering Ethics, v. 15, n. 3, p. 311-341, 2009.

 

COLZATO, L. S.; HOMMEL, B.; BESTE, C. The Downsides of Cognitive Enhancement. The Neuroscientist, v. 27, n. 4, p. 322-330, 2020.

 

HILLS, T. T.; HERTWIG, R. Why Aren’t We Smarter Already: Evolutionary Trade-Offs and Cognitive Enhancements. Current Directions in Psychological Science, v. 20, n. 6, p. 373-377, 2011.

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Daniel Araújo

– Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2017 – CRM-MG 73183;
– Residência Médica em Neurologia pelo HU-UFJF (2021) – RQE 57063;
– Pós-graduação em Terapia Intensiva pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (2024);
– Mestrado em Saúde pela UFJF (2025);
– Professor universitário na UNIFAA (Valença-RJ).

Jone Loures

– Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2007 – CREF 034587-G/MG;

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– Graduação em Educação Física pela Faculdade Metodista Granbery em 2009 – CREF 016969-G/MG;

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– Pós-graduação em Ensino de Educação Física para Educação Básica pela UFJF (2015);

– Pós-graduação em Pilates, Reabilitação e Grupos Especiais pela VOLL Pilates (2022).

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– Pós-graduanda em Psicologia Clínica Baseada em Evidências.

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– Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2023 – CRP 04/71508;

– Atende pela Terapia do Esquema (TE) e Terapia Cognitivo Comportamental (TCC).

Tulio Siano Rossini

– Graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina de Teresópolis em 2018 – CRM-MG 79251;

– Especialização em Psiquiatria pelo Hospital São Marcos no interior de São Paulo (2024);

– Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Adriana Kelmer Siano

– Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2000 – CRM-MG 34894;
– Residência Médica em Psiquiatria no Hospital Universitário da UFJF (2004) – RQE 14810;
– Formação em Psicanálise pela SOBRAP de Juiz de Fora (2005);
– Pós-graduação em Psicanálise, Subjetividade e Cultura pela UFJF (2007);
– Mestrado em Saúde pela UFJF (2009);
– Pós-graduação em Psiquiatria Nutricional e do Estilo de Vida (2024)
– Pós-graduação em Saúde Mental – com visão Funcional Integrativa (2025)
– Preceptora da Residência Médica em Psiquiatria do HU/UFJF desde 2014 — coordenadora do Ambulatório de Interconsulta Psiquiátrica e do Programa de Transtornos do Humor.

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