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O sono e o sistema glinfático: importância para a saúde mental | Adriana Kelmer Siano

O sono é uma função vital que impacta diretamente a saúde física e mental. Uma das descobertas mais significativas dos últimos anos é a identificação do sistema glinfático, um sistema de limpeza no cérebro que é ativado durante o sono. Este sistema desempenha um papel crucial na manutenção da saúde cerebral e na prevenção de transtornos mentais. Compreender o funcionamento do sistema glinfático e sua relação com o sono pode oferecer novas perspectivas sobre a importância de um sono de qualidade para a saúde mental.

 

O sistema glinfático é um sistema de drenagem exclusivo do cérebro e do sistema nervoso central, análogo ao sistema linfático no restante do corpo. Ele é composto por uma rede de canais que permite a remoção de resíduos metabólicos e toxinas do cérebro. Durante o sono, especialmente na fase de sono profundo, o fluxo do líquido cefalorraquidiano (LCR) aumenta, facilitando a eliminação de substâncias tóxicas, como proteínas beta-amiloide e tau, que estão associadas a doenças neurodegenerativas como o Alzheimer1.

 

A atividade do sistema glinfático é maximizada durante o sono, tornando o sono de qualidade essencial para a função cerebral saudável. Quando estamos acordados, o fluxo do LCR é reduzido e a remoção de resíduos é menos eficiente. O sono inadequado ou interrompido pode comprometer a atividade do sistema glinfático, levando ao acúmulo de toxinas no cérebro e aumentando o risco de transtornos mentais e neurodegenerativos.

 

A eficiência do sistema glinfático tem implicações diretas na saúde mental. Vamos explorar como a disfunção do sono e, consequentemente, do sistema glinfático, pode afetar a saúde mental, com destaque para a depressão, insônia e ansiedade.

 

A depressão está frequentemente associada a problemas de sono, como insônia ou hipersonia. A disfunção do sono pode levar à redução da atividade glinfática, resultando no acúmulo de resíduos metabólicos no cérebro. Esse acúmulo pode contribuir para a inflamação neurogênica e a disfunção sináptica, exacerbando os sintomas depressivos2. Estudos mostram que a melhoria da qualidade do sono pode ajudar a restaurar a função glinfática e reduzir os sintomas da depressão.

 

A insônia é caracterizada pela dificuldade em adormecer ou manter o sono, o que pode comprometer a atividade glinfática. A falta de sono profundo, em particular, impede a limpeza eficiente do cérebro, aumentando o risco de acúmulo de toxinas e inflamação. A disfunção glinfática pode, por sua vez, perpetuar o ciclo de insônia, afetando negativamente a função cognitiva e o bem-estar emocional3.

 

A ansiedade também pode estar associada à disfunção do sono e do sistema glinfático. O estresse crônico e a ansiedade podem levar a padrões de sono interrompidos, reduzindo a eficiência da remoção de resíduos cerebrais. Esse acúmulo de toxinas pode aumentar a excitabilidade neuronal e a resposta ao estresse, exacerbando os sintomas de ansiedade4. Melhorar a qualidade do sono pode ajudar a normalizar a atividade glinfática e reduzir a ansiedade.

 

Manter um sono de qualidade é crucial para a saúde do sistema glinfático e, consequentemente, para a saúde mental. Aqui estão algumas práticas recomendadas:

1- Manter um horário de sono regular: Ir para a cama e acordar no mesmo horário todos os dias ajuda a regular o ciclo sono-vigília e promove a eficiência do sono.

2- Criar um ambiente de sono confortável: Um quarto escuro, silencioso e fresco pode facilitar o sono profundo e contínuo, necessário para a função glinfática.

3- Praticar técnicas de relaxamento: Técnicas como meditação, respiração profunda e yoga podem ajudar a reduzir o estresse e promover um sono de melhor qualidade.

4- Limitar o uso de eletrônicos antes de dormir: A exposição à luz azul de dispositivos eletrônicos pode interferir na produção de melatonina e na qualidade do sono.

 

O sono de qualidade é essencial para a ativação e manutenção do sistema glinfático, que desempenha um papel crucial na remoção de resíduos do cérebro e na prevenção de transtornos mentais. Compreender a relação entre o sono, o sistema glinfático e a saúde mental pode ajudar a desenvolver estratégias eficazes para melhorar a qualidade do sono e promover o bem-estar mental. Investir em práticas que promovam um sono saudável é fundamental para a manutenção da saúde cerebral e a prevenção de transtornos como depressão, insônia e ansiedade.

 

Referências Bibliográficas:

 

1. Xie, L., Kang, H., Xu, Q., Chen, M. J., Liao, Y., Thiyagarajan, M., … & Nedergaard, M. (2013). Sleep drives metabolite clearance from the adult brain. Science, 342(6156), 373-377.

2. Ooms, S., Overeem, S., Besse, K., Rikkert, M. O., Verbeek, M., & Claassen, J. A. (2014). Effect of 1 night of total sleep deprivation on cerebrospinal fluid β-amyloid 42 in healthy middle-aged men: a randomized clinical trial. JAMA Neurology, 71(8), 971-977.

3. Nedergaard, M. (2013). Garbage truck of the brain. Science, 340(6140), 1529-1530.

4. Van Someren, E. J. W. (2020). Brain mechanisms of insomnia: new perspectives on causes and consequences. Physiological Reviews, 100(2), 893-974

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– Preceptora da Residência Médica em Psiquiatria do HU/UFJF desde 2014 — coordenadora do Ambulatório de Interconsulta Psiquiátrica e do Programa de Transtornos do Humor.

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