Depressão, insônia e ansiedade são três dos transtornos mentais mais prevalentes na população mundial. Embora cada um tenha características específicas, há uma forte interrelação entre eles e, frequentemente, manifestam-se de forma concomitante, criando um ciclo vicioso que pode dificultar o tratamento e a recuperação do paciente.
A depressão é um transtorno de humor caracterizado por sentimentos persistentes de tristeza, perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas, alterações no apetite e no sono, fadiga e dificuldade de concentração. A ansiedade, por sua vez, envolve sentimentos intensos e persistentes de preocupação, medo ou apreensão, muitas vezes acompanhados de sintomas físicos como aumento da frequência cardíaca, suor excessivo e tensão muscular. A insônia, que se manifesta como dificuldade em adormecer ou manter o sono, é um sintoma comum tanto na depressão quanto na ansiedade.
Pesquisas indicam que cerca de 90% das pessoas com depressão também experimentam insônia (RIEMANN; VODERHOLZER, 2003) e que a ansiedade é um fator de risco significativo para a insônia crônica, um sintoma que pode agravar o quadro ansioso (OHAYON; ROTH, 2003). Da mesma forma, a insônia pode aumentar o risco de desenvolver ansiedade e depressão, criando um ciclo onde um transtorno exacerba os sintomas do outro (BAGLIONI et al., 2011).
O tratamento convencional para esses transtornos mentais envolve, frequentemente, o uso de medicamentos – antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos – associados a intervenções psicoterápicas. No entanto, uma parcela significativa dos pacientes apresenta resistência ao tratamento, não obtendo alívio suficiente dos sintomas com essas abordagens tradicionais. Estudos mostram, por exemplo, que até 30% dos pacientes com depressão podem não responder adequadamente aos antidepressivos (AL-HARBI, 2012). Diante dessa resistência ao tratamento, a psiquiatria nutricional e a psiquiatria do estilo de vida emergem como abordagens promissoras e complementares.
A psiquiatria nutricional foca na relação entre a alimentação e a saúde mental, explorando como nutrientes específicos podem influenciar o funcionamento cerebral e os neurotransmissores envolvidos na regulação do humor e do sono, por exemplo. Diversos estudos apontam que uma dieta rica em alimentos anti-inflamatórios, como frutas, verduras, peixes gordurosos e nozes, está associada a um menor risco de depressão e ansiedade (LAI et al., 2014). Além disso, a suplementação de nutrientes como Ômega-3, Vitamina D e Magnésio tem mostrado resultados positivos na melhora dos sintomas desses transtornos (SARRIS et al., 2015).
A psiquiatria do estilo de vida inclui intervenções que abordam atividade física, gerenciamento do estresse, higiene do sono, uso de substâncias psicoativas e conexão social, além de uma dieta saudável. O exercício físico regular, por exemplo, tem efeitos antidepressivos e ansiolíticos comprovados, além de melhorar a qualidade do sono (BLUMENTHAL; SMITH; HOFFMAN, 2012). Práticas de relaxamento e mindfulness também são eficazes na redução da ansiedade e na promoção de um sono mais reparador (GROSSMAN et al., 2004).
Percebe-se, então, que a interrelação entre depressão, insônia e ansiedade demanda uma abordagem mais ampla no tratamento desses transtornos. Embora o tratamento convencional continue sendo fundamental, a incorporação dos princípios da psiquiatria nutricional e do estilo de vida pode oferecer benefícios adicionais, especialmente para aqueles que apresentam resistência às intervenções tradicionais. É essencial que os profissionais de saúde estejam abertos a essas abordagens integrativas, proporcionando aos pacientes uma melhor qualidade de vida e bem-estar mental.
Referências Bibliográficas:
1- RIEMANN, D.; VODERHOLZER, U. Primary insomnia: a risk factor to develop depression? Journal of Affective Disorders, v. 76, n. 1-3, p. 255-259, 2003.
2- OHAYON, M. M.; ROTH, T. Place of chronic insomnia in the course of depressive and anxiety disorders. Journal of Psychiatric Research, v. 37, n. 1, p. 9-15, 2003.
3- BAGLIONI, C. et al. Insomnia as a predictor of depression: a meta-analytic evaluation of longitudinal epidemiological studies. Journal of Affective Disorders, v. 135, n. 1-3, p. 10-19, 2011.
4- AL-HARBI, K. S. Treatment-resistant depression: therapeutic trends, challenges, and future directions. Patient Preference and Adherence, v. 6, p. 369, 2012.
5- LAI, J. S. et al. A systematic review and meta-analysis of dietary patterns and depression in community-dwelling adults. American Journal of Clinical Nutrition, v. 99, n. 1, p. 181-197, 2014.
6- SARRIS, J. et al. Nutritional medicine as mainstream in psychiatry. The Lancet Psychiatry, v. 2, n. 3, p. 271-274, 2015.
7- BLUMENTHAL, J. A.; SMITH, P. J.; HOFFMAN, B. M. Is exercise a viable treatment for depression? ACSM’s Health & Fitness Journal, v. 16, n. 4, p. 14-21, 2012.
8- GROSSMAN, P. et al. Mindfulness-based stress reduction and health benefits: A meta-analysis. Journal of Psychosomatic Research, v. 57, n. 1, p. 35-43, 2004.